quarta-feira, 4 de novembro de 2015

NYX – A Magia da Noite (Boris de Pedra)

                                        


Uma seita macabra busca ajuda de um jovem paranormal para desvendar um antigo mistério. de séculos atrás . Um artefato mágico que permitiria que o mal instalasse, na Terra, o reino de Eris,a deusa do Caos
Um alquimista ,da Idade Média, guarda o segredo, em sua família,a herença mágica, confiada as suas futuras gerações. Ao longo dos séculos ,a seita, procura pelo segredo, escondido na alma de um descendente do alquimista ,sendo este, defendido pelos lobisomens. Inimigos mortais dos vampiros.
Esse é o enredo de NYX - A Magia da Noite, escrito por Boris de Pedra, onde o autor,literalmente, brinca com símbolos do ocultismo, fazendo uso do repertório, de personagens clássicos,das histórias de terror, como vampiros,lobisomens,e fantasmas desenvolvendo uma trama literária,mágica, cheia de encantos e reviravoltas. NYX - A Magia da Noite, foi postado, pelo autor,originalmente,em seu blog,  www.tecnocibernetico.wordpress.com

NIX – A Magia da Noite - Capítulo 1 - Noite de Lua Cheia



Noite de Lua Cheia
(Boris de Pedra)
Meu nome é Bernardo Belisário. Eu ganho dinheiro com ativos de renda variável. Também conhecido como mercado de ações. Compra e venda. Como comecei a ganhar algum dinheiro com isto? Alguns amigos passaram a pedir conselhos sobre investimentos. Foi então que tive a idéia de criar uma espécie de Fundos de Investimento. Funcionava assim. Se você investisse naquela minha indicação e tivesse lucro haveria uma porcentagem que seria minha. Pois bem, funcionava assim. Mas o que eu fiz para estes investidores confiarem suas finanças em minhas sugestões?
Para que isto possa acontecer você tem que entender sobre o assunto. Tem que entender sobre o mercado de ações. Eu fazia as negociações pela Internet. Usava o Home Broker. Assim, comprava e vendia e tinha lucro. Comprava um pedaço de uma empresa que poderia fazer sucesso. Quando fazia este sucesso, eu vendia. Aí, então, ganhava dinheiro. Deu certo. Passei a ganhar mais com os outros investidores. Assim, sempre enviava relatórios. Do que tratavam? Eram pesquisas diversas de fundos disponíveis no mercado. Tinham como finalidade convencer.

Meus relatórios constavam de duas análises. Uma análise técnica com gráficos e uma análise fundamentalista com balanços financeiros e informações sobre a empresa. Mas, apesar disso, não utilizava nenhum destes indicadores para efetuar compras ou vendas. Tudo era realizado com as fases da Lua. Não havia nenhum motivo para isso. Pura superstição. Simplesmente passei a adotar este método e deu certo. Foi então que apareceram os investidores e a perspectiva de ganhar mais dinheiro com isso.

Além de fazer toda a negociação pela Internet, também fazia contato com os investidores pela rede de computadores. Foi um boca a boca virtual. Tive que criar um blog. O que trouxe mais investidores. Todo o contato era feito por meio de e-mail. A minha rotina era ler uma infinidade de mensagens eletrônicas. Tudo se resumia a números. E isto dizia respeito a minha conta bancária que estava engordando muito. Assim, tinha gula em abrir um e-mail. Foi quando tive acesso a um convite. Era um convite de casamento. Alice. Bruno. Bruno e Alice. Eram meus amigos e também investiam em ações. Liam todos os meus relatórios. Não poderia desapontá-los. Faziam questão da minha presença. Afinal, segundo me informaram, teria sido o responsável pela possibilidade da realização da celebração da união por meio do casamento do casal. A renda deles havia aumentado com o investimento em ações. Aquilo fez muito bem ao meu ego. Olhei data, loca e hora
Acontece que como trabalhava com a Internet não tinha um horário determinado. Não tinha que bater ponto. Trabalhava mais durante a noite. Por isso entendi 12:00 h. como sendo meia-noite. Ninguém falou que era de noite. Mas eu pensei que fosse meia-noite. Não sei o motivo. Inclusive, seria uma noite de lua cheia. Mas não liguei as coisas. Não me passou pela cabeça. Simplesmente, me desloquei para aquele endereço como se estivesse indo para uma reunião de negócios. Nada mais do que isso. Peguei um táxi e passei o endereço da Igreja ao motorista. Em poucos minutos já estava no local.

Não havia ninguém. Em um primeiro momento não percebi nada. Também não passou pela minha cabeça que estivesse me enganado quanto ao horário. Era quase meia-noite. Foi então, que observei um senhor de idade. Era um velhinho que estava acomodado na escadaria da igreja. Não tinha cara de quem investisse no mercado de ações. Mas deveria ser um convidado. Aproximei com a intenção de iniciar uma conversa amigável.

Notei que tinha muito pelo no corpo. Não sei por que. Apenas me chamou a atenção. Assim como suas sobrancelhas grossas que se fundiam. Além das palmas das mãos ásperas e calejadas e os grandes olhos arregalados. O que não significou muito para mim. Disse que chamava Romão e que era de uma cidade do interior próxima a Bragança Paulista, na divisa com Minas Gerais, chamada Joanópolis. Parecia ser um velhinho simpático. Fui cativado pela sua prosa e notei que tomava uma cachaça. Ofereceu e tomei um gole. Água ardente. Água que passarinho não bebe. Senti todo o meu corpo arrepiar. Fechei os olhos. Levantei , numa espécie de espasmo, a cabeça para cima. Abri os olhos. Diante minha visão uma lua cheia.

Foi quando seu Romão falou qualquer coisa sobre efeito lunar. Acredito que não tivesse dito estas palavras, mas se referia a lua cheia. Ofereceu e tomei outro gole. Em todo caso, quis dizer que a lua influenciava o comportamento das pessoas. Sua afirmação se fundamentava em um argumento logicamente inconsistente. Mas isto eu fazia para escrever meus relatórios. Dei um desconto para o seu Romão. Ele falou que a lua afeta as marés. Lembrei que o corpo humano era constituído em sua maior parte de água. Tomei mais um gole da água ardente do seu Romão.

Não associei efeito lunar com desequilíbrio emocional. Foi quando um cão vira-lata apareceu do nada latindo e me mordeu.

Perdi um pouco o foco. O cachorro sumiu. Ficou a impressão de uma mordida. Desapareceu como se não existisse. Ouvi o velhinho dizer que isto acontecia em noite de lua cheia. Inclusive, que era a noite de lobisomem. Que era um homem atacado por um lobo e que virava o bicho em toda noite em que a lua estava nesta fase. Mas aquilo era uma falácia.

Nunca ninguém havia me contado ou mesmo havia lido sobre a origem desta história de lobisomem. Consta que Heródoto, filósofo grego, mencionou um mito sobre pessoas que assumiam a aparência de lobo. Petrônius, autor romano, em sua peça "Satyricon" foi o primeiro que vinculou a lua cheia com a transformação do homem em lobo. Já Ovídio escreveu o mito do Rei Likaon que teria desrespeitado Júpiter ao incluir carne humana escondida entre outras especiarias para um banquete.

O Deus Júpiter ficou furioso e jogou uma maldição no Rei Likaon que se transformou em lobo. Daí surgiu o termo Lykantropos, que é aquele que vira lobo. Derivado deste termo temos a lincantropia que é o nome dado à uma doença mental que leva o doente a julgar que se transforma em lobo. Uma loucura. Mas há a hipertricose, que é uma doença genética que provoca o crescimento anormal de pelos. No entanto, foi na Idade Média que esta história. Ou seria mito? Bom, foi nesta época que surgiu sua conotação maligna.

Cabe ressaltar que o século XVI foi marcado pela inquisição. Milhares de pessoas de pessoas foram acusadas de bruxaria e de serem lobisomens. Houve o caso de Giles Garnier que em 1573 confessou, após tortura, ter feito um pacto com um espírito maligno e ser o responsável por uma série de mortes de crianças causadas por um lobo de verdade. 52 anos antes, em 1521, em seu julgamento, Pierre Bourgot que era acusado de cometer assassinatos brutais afirmou que se auto transformava em lobo. Toda essa paranóia ainda era disseminada pelos problemas sócio econômicos e pela miséria e a fome.
Foi quando tocou a primeira de doze badaladas que se seguiram irritantemente. Meia noite. Quando dei por mim estava sozinho. Um silêncio profundo. A lua me olhava com desconfiança. Um barulho. O que era aquilo? Um arrombamento. Um grupo de assaltantes que arrombavam igrejas durante a noite para roubar arte sacra. Percebi o movimento ,mas fiquei sem ação. Eles se aproximaram de mim. Não tive tempo de sentir medo . Tudo muito rápido. Senti uma dor intensa. Talvez uma coronhada na cabeça. Antes de desmaiar tive a sensação de ter visto um lobo com feições humanas atacando meus agressores. Fade in. Tudo ficou escuro. Fade out. Uma silhueta feminina em um vestido de noivo. Alice. Ao seu lado, Bruno. Pareciam preocupados. O sol rachava. Será que já havia percebido o que ocorrera comigo? Ouvi uma voz.

- Você está bem?

Preferi não proferir palavra alguma. Ainda estava confuso. Também tive receio de relatar o que acreditava ter acontecido comigo. Poderia ser uma auto ilusão. Uma forma de nos enganarmos . Sendo que fazemos isto conosco de modo a aceitarmos ou acreditarmos em uma coisa que não é verdadeira. De achar que o que é falso é algo real. Enfim, uma simulação. Provavelmente, aquilo tinha um significado. Talvez não devesse fazer nenhuma espécie de negociação em noite de lua cheia. Talvez fosse melhor fechar para balanço. Foi quando ouvi alguém dizer:

- Você investiu nas ações daquela corretora de seguros indicada no último relatório?


A pergunta não havia sido feita para mim. Era um diálogo entre os noivos. Não lembrava . Acho que o seu Romão me salvou. Mas minha cabeça ainda latejava quando ouvi a primeira das doze badaladas que indicavam que já eram meio dia.

NYX – A Magia da Noite - Capítulo 2 - Noite no Cemitério



Noite no Cemitério
 Boris de Pedra
Apesar da idade avançada, seu Lindolfo, ainda podia se orgulhar de trabalhar como guarda de segurança. Trabalhava no período noturno. Não era de dormir no serviço. Mas às vezes cochilava. Tudo era muito tranquilo. Talvez fosse melhor dizer silencioso. Mas não tanto. Porque era sempre acompanhado por um radinho de pilha. O locutor mencionou o nome de Bernardo Belisário, um investidor.
O cara devia ter grana. Mas não prestou atenção. Nem chegou a abrir o olho. A descontração não combinava com o cargo que ocupava. Onde já se viu um vigia noturno dormindo no serviço. Mas os cabelos grisalhos e o aspecto frágil daquele homem insinuava que não estava ocupando o cargo certo. 
Porém, talvez fosse o ambiente de trabalho. Não era um banco. Mas um cemitério. Então , não precisava ser forte para tomar conta de um lugar que só tem defunto. Talvez por isso trabalhasse ali. No entanto, a noite não era tão tranquila assim. Apesar de que próximo a guarita poderia se ouvir, em alto e bom som, os roncos daquele velho fardado. 
Havia um grupo de jovens perambulando entre os túmulos. Eles pularam o muro de trás do cemitério e agora caminhavam entre os mortos. Estavam agitados. Eram ladrões de túmulos. Mas parecem que eram novos no ramo. A especialidade da rapaziada era arte sacra. Costumavam a assaltar igrejas.Mas parece que na última tentativa não tiveram a sorte que sempre os acompanhavam. Por isso estavam agitados.
_Você viu aquela coisa? 
Era meia noite e tinha lua cheia. Ninguém queria falar, talvez por medo de que pudesse ser verdade. Mas ninguém acreditava em lobisomem. Não tinha nada a ver. Entretanto, haviam sido atacados quando saíam da igreja carregando os objetos furtados. Só poderia ter sido coincidência. 
 _ Cara, foi algo muito estranho! Sinistro! 
Não agradava a nenhum deles a lembrança daquela noite. Além do mais, gerou prejuízo. Isto porque os objetos foram perdidos. Ficaram tão assustados que só se preocuparam em fugir. No rosto uma expressão de terror. Correram e correram muito. 
Depois como é que explicariam isso. O receptador, que era o mesmo que encomendava as peças e depois deveria revender. Mas isto era uma suposição. Sabiam que ele indicava o local e pagava na entrega da coisa furtada. Era isso que sabiam. Como poderiam falar que naquela noite foram atacados por um lobisomem quando saíam da igreja?
 Ele iria pensar que estivessem bêbados. Só que de fato eles estavam bêbados. Sumiram da área. O receptador não gostou deste sumiço. Antes não ficasse sabendo o motivo. Mas justamente por não saber o motivo é que dispensou a rapaziada. Eles ficaram sem o emprego. Se é que podemos chamar esta atividade de emprego. Era crime mesmo.
Mas eram especialistas no assunto. Não que fossem religiosos , mas entendiam de santos. Principalmente de imagens. Não tinham a capacidade de localizar a igreja que teria algo de valor. Mas estando lá dentro sabiam do que se tratava. Isto lhes dava segurança. Tornaram-se confiantes. Especializaram no assunto. Por outro lado se acomodaram. Não diversificaram sua ação.
Então, quando ocorreu o acontecido e não puderam dar continuidade na sua relação comercial ficaram meio que sem rumo. Além deste detalhe servir para ocultar o medo que se instalou de reencontrar com aquela coisa assustadora. Eles não gostavam nem de pensar no assunto.
_Você tomou a vacina contra raiva? 
Um deles se virou e perguntou, baixinho, para um dos comparsas. Na verdade, aquela pergunta queria era camuflar uma verdade. Assim, tirariam o foco do lobisomem e passavam a tratar a coisa que os atacou como se fosse um cachorro louco. Um cão babando de raiva. Antes fosse. Queriam pensar assim.
 O silêncio da noite era quebrado por seus passos e pelos cochichos que trocavam entre si. Ninguém sabe ao certo qual deles foi que teve a idéia de continuar no jogo. Mas um deles percebeu que assaltar um túmulo era mais seguro do que correr o risco de invadir uma igreja e na saída ser surpreendido por um ataque como aquele que tinham sofrido.
 Aparentemente, quando saíram deram de cara com um sujeito bem vestido. O cara estava de terno. Era algo que não podia estar acontecendo. Quem estaria vestido daquela forma naquela hora da noite? Bom, na hora não deu para tirar conclusões precipitadas. Tinham feito o limpa. Não quer dizer que levaram tudo. Mas só o essencial. Saíram em disparada. Talvez não fossem tão profissionais assim.
Eram afoitos. Então, praticamente, esbarraram neste cara misterioso que estava de terno. Atropelaram o cara. Não tinham a intenção de espancá-lo. Mas quem falou em dar porrada? Não teve nada disso. Foi uma coisa rápida. De repente, do nada, surgiu saindo do meio da escuridão um vulto. Ninguém gostava de lembrar de uma coisa dessas.
Então, resolveram roubar os mortos. Algo dizia que eles não iriam reagir. Na guarita, o vigia não estava preocupando com isso. Deveria estar sonhando. O vento soprou fazendo as folhas secas levantarem-se do chão. Em uma das várias lápides poderia se ler “Descanse Em Paz”.
Mas, nenhum deles tinha paz de espírito. Para aumentar o desconforto não queriam que a lembrança daquela noite voltasse a causar calafrios. Por isso não mencionavam nada. Não diziam uma palavra sequer. No máximo, sussurravam um com outro. Mas tentando desviar do assunto. Mas aquilo estava dentro da cabeça deles. Seria mais fácil e recomendável verbalizar este medo do que mantê-lo preso na sua memória. Isto os deixava ainda mais angustiados.
_Quem é que está com o pé de cabra?
Ninguém se importou em ler o que estava escrito na lápide, muito menos demonstraram interesse em saber o nome do defunto que em breve iriam roubar. Era um jázigo que deveria ser de uma família rica. Havia uma estátua com um anjo de asas. Estava desgastada pelo tempo. Mas demonstrava que poderia ter sido enterrada ali alguma madame de classe alta e com muitos recursos que poderia ter passado desta para melhor acompanhada de suas jóias. Tinha uma certa lógica.
Isto se fizessem um paralelo com os faraós egípcios. Só se for assim. Mas também poderia ser uma obturação de ouro. Um anel ou quem sabe uma aliança. Enfim, deveria ter alguma coisa de valor.
Chegaram a tirar um caixão do lugar. Estavam nervosos. Um deles pegou uma marreta e começou a bater. A intenção era abrir aquela caixa grande. Tinham levado uma maçarico, mas a tensão fez com que tentassem abri-lo de uma maneira mais brutal. O barulho que faziam não incomodava ninguém. Na guarita, o vigia roncava e o radinho de pilha tocava uma música. 
Mesmo assim um deles sentiu-se incomodado. Pediu para o mano que estava com a marreta para que parasse. Ele não ouviu da primeira vez e continuou com o ritmo forte das batidas. Na segunda vez ele gritou. A marreta parece que tinha vida própria e aquele que a usava parecia ser um instrumento. 
Por fim, aquele que se sentia incomodado apelou. Ficou com raiva e esta parece que havia sido transmitida para os outros que também queriam que parasse de martelar o caixão. Não havia motivo, mas se tivesse como observar os rostos deles poderíamos perceber que estavam transtornados. Era como se estivessem que se deparar com uma situação que não gostariam de vivenciar. Eles suavam. 
Então, as marretadas pararam. O cara que a segurava estava ofegante. Alguém gritou de novo. Outros gritos foram ouvidos. Estavam descontrolados. Era uma tentativa de comunicação. Mas não conseguiam. Trocaram tapas e socos. Até que conseguiram acalmar. Entenda-se por isso o fato de ficarem em silêncio. Mesmo assim, não conseguiram este intento. 
Entreolharam-se. Para ter a certeza de que nenhum deles estava fazendo alguma coisa além de estarem quietos. Concluíram , apesar do clima tenso, que algo estava destoando. Não era mais as marretadas. Era um outro tipo de som. Parecia uma pancada. Apesar do silêncio que era quebrado pelo barulho do vento conseguiram escutar um outro tipo de som. 

Um deles colocou o dedo indicador sobre a boca como se pedisse silêncio. Ele se entreolharam e puderam identificar um zumbido. Era uma música distante que provavelmente estava sendo emitida pelo rádio. Quanto a isso, depois de alguns segundos, deu para identificar. Mas aquela vibração de uma pancada abafada continuava. Eles não queriam acreditar. O som vinha de dentro de um caixão.

NYX – A Magia da Noite - Capítulo 3 - Noite Sinistra



Noite Sinistra 
Boris de Pedra

Já era mais de meia noite e no corredor que levava a ante sala doestúdio estava vazio. Uma barata agonizava com as patas para o ar. Sealguém estivesse ali talvez sentisse nojo daquele inseto.
No prédio,onde funcionava a rádio, não havia quase ninguém. O programa queestava no ar era o Noticiário Noturno. Era feito ao vivo. Por isso,havia a necessidade que alguém redigisse algum texto se fosse preciso.Uma notícia de última hora por exemplo. Para dar a ideia de que o programa estava acontecendo naquele instante. Esse alguém era Blanche.
Blanche Richards era o seu nome. Escrevia textos sob encomenda Trabalhava como ghost writer. A pessoa que pagava pelos seus serviços sempre assinava. Isso acabou virando sua fonte de renda.
O mágico Houdini utilizou os serviços de ghost writer de H.P. Lovecraft. Ela, Blanche,não tinha o que reclamar dos valores recebidos. Tinha o hábito devagar pela rádio durante as madrugadas.
Assim, se alguém estivesse precisando de uma mensagem sabia onde poderia a encontrar.Às vezes o locutor escalado para aquela jornada nem chegava a vê-la.
Entrava no estúdio e por lá ficava até a hora de ir embora. Tinha águae uma garrafa térmica contendo café.

Após o noticiário noturno entrava um programa gravado. Era do Padre Doveque. Tinha uma boa audiência. O padre havia ficado famoso por ter participado de um reality show quando ainda era seminarista. Sua participação despertou a atenção da mídia. Ganhou o prêmio e levou a fama.
Anos depois, já ordenado padre, chegou a gravar um disco com músicas de louvor. Isso manteve os holofotes acesos. Mas, atualmente, tem atuado em outra área. O seu programa era um reflexo imediato de sua nova atividade. Padre Doveque praticava exorcismo. Teve um caso que ficou famoso. Foi até televisionado. Altos indíces de audiência. Uma criança, especificamente uma menina, havia sido possuída por espíritos do mal. Devandra era o seu nome. Ele conseguiu expulsá-los e a população foi ao delírio.

Durante o programa isto sempre era lembrado subliminarmente. Blanche deixou a rádio antes que o programa se iniciasse. Algo havia chamado sua atenção pela janela. A visão que tinha era de um cemitério.
Percebeu uma movimentação de vultos. O ar condicionado ligado impedia que identificasse qualquer tipo de som. Aquilo despertou sua curiosidade. Resolveu conferir.
Vestiu sua capa preta, uma espécie de sobretudo com capuz, e se encaminhou naquela direção. Chegando lá percebeu que alguma coisa havia acontecido.
O portão estava aberto. Entrou. Não havia ninguém na guarita. Havia um zumbido de um radinho de pilha. Alguém estivera ali. O vento soprava forte e fazia barulho. Ela caminhou por entre os túmulos e se deparou com um pé de botina. Deveria pertencer a um daqueles vultos que havia observado da janela da rádio. Continuou em frente. Logo percebeu do que se tratava. Eram ladrões de túmulos.
Violadores de sepulturas. Um bando de canalhas e cretinos. Mas algo havia os assustados. O que poderia ter acontecido?
 _ "Isto só pode ser coisa do sobrenatural"... foi isso que ouviu ao voltar até a guarita.Era a voz do Padre Doveque. A frequência diminuiu e a pequena caixinha de plástico começou a chiar novamente.
Então, outro barulho ganhou destaque. Era o portão que estava rangendo com a ação do vento. Mas ela não teve tempo para ficar pensando nisso.Seguiu seus instintos. Alguma coisa lhe dizia para tirar isto a limpo.
Foi o que fez. Respirou fundo e apertou o passo. A noite escura não parecia intimidarseu ímpeto. Seguiu em passos firmes e seguros pelas sombras. A imagem de Harry Houdini veio a sua cabeça. Ele costumava desmascarar aqueles que diziam ter poderes paranormais.
 Ele, Houdini, se infiltrava em sessões mediúnicas e identificava os truques utilizados para ludibriar os mais incautos. Talvez por isso acabou sendo calado. Mas a perspectiva da morte não a abalava. Ela sentia que algo estava tentando revelar um sinal.
                    _ "Será que tudo isso tem um significado? Alguma coisa em comum?".
Enquanto caminhava a passos rápidos questionava. O sumiço de Bernardo Belisário, o investidor, aconteceu após um casamento celebrado pelo Padre Doveque. Na noite anterior a igreja dele havia sido,literalmente, saqueada.
               _ "Haveria alguma ligação?".
 Foi então que se assustou com uma coruja que passou voando ao seu lado. Estava absorvida naquele pensamento. Não havia nenhuma evidência plausível de que os ladrões de arte sacra fossem aqueles assustados vultos do cemitério. Mas de alguma forma estava associando estas possibilidades.
As ruas estavam desertas. Naquela hora os semáforos não ficavam nem vermelho nem verde. Apenas piscavam a luz amarela. Mas isto também não chamava sua atenção. Esta estava canalizada em uma única direção.
Um mistério a absorvia e a escuridão era sua cúmplice. Aumentou a velocidade dos seu passos. Após alguns minutos neste ritmo pode perceber uma espécie de vulto se movendo. Não parecia ser alguém assustado. O movimento era mais cadenciado.
Ou seja, não demonstrava estar afobado. Parecia relutante. Enfim, sua intuição estava correta.Pensou em correr. Possivelmente sua correria não surtiria efeito.Poderia se fazer notar por aquele vulto distante. Não era essa suaintenção. Preferiu continuar no mesmo ritmo.

Viu que o vultopraticamente se arrastava. Assim, estava se aproximando cada vez mais sem chamar atenção. Era como se sentisse a sensação do dever cumprido. Se desligou do mundo ao seu redor.
Não se tocou que ainda estava sendo observada pela coruja. Estava mais preocupada com outra criatura da noite. O vento assobiava uma canção gótica. Essa poderia ser uma licença; poética para se referir ao barulho que a ventania provocava. Blanche seguia em passos firmes. Por um instante pensou tratar-se de um morador de rua, um mendigo em busca de abrigo em meio àquela noite sinistra.

Talvez, pelo fato de o vulto estar mais próximo do seu campo de visão. Suas vestes aparentavam estar sujas como se fosse um maltrapilho. A sua curiosidade ficou mais aguçada. Tentou controlar a ansiedade. Não queria especular com a imaginação. Tinha que passar isto a limpo. Foi então que recebeu o sinal.
Um pequeno papel foi levado em direção ao seu rosto. Instintivamente levou a mão até a altura da cabeça para se desviar do que se revelou ser um flyer, um panfleto de divulgação de um show de uma banda derock.

Era uma espécie de xerox e em preto e branco se destacava o nome "Noite Macabra". Apesar das letras estarem estilizadas conseguiu fazer a leitura, assim como conseguiu identificar o local da apresentação como sendo Limbo. Segundo aquelas informações o horário do evento estava marcado para a meia noite.
Aquilo tudo começava a fazer sentido. Não sabia ainda o que isto significava. Mas havia encontrado a chave para desvendar o mistério.Entretanto, o vulto havia saído do seu campo de visão. Desapareceu.
Mas ela sabia para onde teria ido. Tudo indicava que estava próxima do lugar que estava acontecendo a apresentação. Era como se tivesse visto com seus próprios olhos o suposto vulto entrando lá.Foi com esta certeza que seguiu em frente. 
Todavia, se descuidou um pouco e baixou a guarda. Então, tomou um grande susto ao se deparar com um homem que quase passou por cima dela. Não chegou a esbarrar. Mas apareceu de surpresa. Não havia enviado nenhum aviso. Se esquivava pela noite como uma assombração
Além de tudo era um sujeito grosso. Nem se desculpou. Aparentemente nem se importou ou chegou a perceber sua presença. Foi essa a impressão que Melquíades causou. Realmente, ele parecia estar apressado. Então, um portão foi aberto e ele entrou no Limbo.


Blanche se refez do susto e agora sabia onde aquele vulto, que ela seguiu do cemitério, havia entrado. Foi então que ao invés de ter saciado sua curiosidade ficou ainda mais intrigada. Havia algo de estranho comaquele sujeito com o qual havia quase esbarrado. Ele parecia estar sangrando. E aquele não era o lugar ideal para se ir quando estamos sangrando. Foi isso que ela pensou ao ver uma poça de sangue no chão.

NYX – A Magia da Noite - Capítulo 4 - Noite Macabra



Noite Macabra
Boris de Pedra
Até parecia uma montanha. Imagina um cara com mais de dois metros de altura e uns cento e vinte quilos. É uma cara forte e com uma cara de mau. Alguém assustador.
Por isso ele prestava serviço de segurança. Trabalhava na noite. Era segurança de balada. As mais agitadas sempre o contratavam. Afinal, a simples visão do seu perfil intimidava qualquer um.
Enfim, era um profissional muito bem conceituado no mercado. Entretanto, ele gostava de trabalhar em inferninhos. Gostava de prestar os seus serviços quando ocorriam shows de rock and roll.
Naquela noite ele estava no Limbo, uma casa noturna que era uma espécie de boate underground clandestina.Lotação máxima. Pelo fato de não ser legalizada funcionava em datas agendadas com antecedência.
Por exemplo, estas datas coincidiam com a noite de lua cheia. Isto facilitava na hora de fechar o negócio. Assim, no dia que a Limbo abria as portas não trabalhava em lugar algum.
Ainda mais naquela noite. Haveria o show do Noite Macabra, uma banda que tinha como vocalista Mike Phone. Ele era tão gótico que parecia mais um vampiro.
Eles tinham fãs que o acompanhavam onde quer que tocassem. Caronte, o grandalhão, gostava desta banda. Enfim, ele é que decidia quem entraria no Limbo. Lá dentro a festa bombava. O bar vendia bem. A música se espalhava pelo ambiente no som mais alto. Predominava o escuro sobre a claridade que surgia com as luzes que piscavam. Tudo parecia ficar em Câmera lenta.
Na pista de dança Veruska Veneno se destacava. Talves por sua aparência. Talvez por sua dança.Enfim, chamava atenção por sua exuberância. Também era conhecida como a cabritinha do inferno. Isto porque em suas costas sobre o ombro direito havia um bode preto tatuado. Um cara que ficou com ela espalhou a notícia.

Ela resolveu respirar um pouco. O ambiente era esfumaçado o que aumentava a sensação de calor. Foi até o balcão. Automaticamente foi atendida. O barman era um cara bigodudo que mais parecia um hell´s angels deu uma olhadinha como se fosse um sinal.
Ninguém notou nada. Parecia um código. Isto porque ela logo entendeu do que se tratava. Então, bebericou seu drink e atendeu seu celular que começou a vibrar. Talvez não fosse obra do acaso, mas a ligação estava sendo feita do mesmo balcão, a menos de um metro de onde estava.
Eles estavam ao lado de Veruska. Eram três. Uma noite ainda mais divertida. Esta era a intenção que povoava suas mentes estimuladas pelo consumo de álcool. Um deles morava com a avó que estava viajando para o interior. Era a senha. Um deles veio com a idéia que todos acolheram. Logo, entrarm em acordo. Decidiram contratar umas garotas para que fizessem streap tease.
Segundo as informações colhidas ali mesmo naquele inferninho, havia um cachê. Um valor a ser pago em moeda corrente pela apresentação. Isto já era muito estimulantes. Pelo menos para aqueles três bêbados.
Caso houvesse um interesse de uma maior aproximação, algo como aprofundar a relação estabelecida era possível renegociar os valores. Isto implicaria em um momento a sós e com pouca ou nenhuma roupa.
Eles, então, caíram na risada. Havia excitação no sorriso de cada um deles. Eram todos canalhas e aquilo sugeria uma diversão adequada. Algo tão banal que era inocente. Entretanto, um deles, pensava um pouco diferente. Ele não concordava muito com seus parceiros de balada.que às vezes se passavam como sendo seus amigos. Por isso embarcava na onda. Afinal, tinha que fazer parte do time.
Inclusive, os brothers estavam no Limbo por sua indicação. Ele curtia o Noite Macabra. Tentava se vestir como o vocalista da banda. Quando vestia aquelas roupas pretas sentia-se como um membro da banda de Mike Phone. Tinha até um codinome que ele mesmo criou. Garoto da Meia Noite.
Enfim, mas os três estavam tão envolvidos com a ilusão de que iriam se divertir bastante, que teriam uma dose a mais de um pouquinho de felicidade que não perceberam que Veruska atendeu seu celular justamente quando fizeram a ligação. Ela fez charme, apesar do barulho, e logo perguntou pelo endereço. Ela sacou que se tratava de um bando de otários e que não falavam coisa com coisa. Mas isto não seria problema. Bastava seguí-los.
Eles saíram e o garoto da meia noite sentiu que estava sendo observado. Olhou para trás e notou que Caronte o encarava. Ele não entendeu e seguiu adiante. Também não notou que Veruska cochichou algo para o grandalhão . Apesar do tamanho, Caronte, era um tanto efeminado e gostava de trabalhar no Limbo por causa de momentos como este em que poderia viabilizar uma possibilidade de encontrar alguém.
Estacionaram o carro na frente da casa da vovó e entraram. Logo em seguida a campainha tocou. Era Veruska e mais duas amigas. Elas vestiam poucas peças de roupas e tinham um aspecto provocante. Foram para a imensa sala. Veruska pediu que apagassem as luzes. Na penumbra elas fizeram uma espécie de dança onde seus corpos se movimentavam sensualmente.
Os caras ficaram enfeitiçados. Vidrados. Talvez estivessem de pau duro. Estavam loucos e bêbados e queriam luxúria. A noite prometia. Um deles deve ter pensado algo assim. As meninas se contorciam e se insinuavam. Caras e bocas . De repente Veruska ficou sozinha. As outras duas entraram casa adentro. Isto porque ao chegarem o neto da dona da casa como bom anfitrião mostrou todos os aposentos. Supostamente elas se dirigiram para os quartos. Eles ficaram mais loucos ainda. Um deles sumiu também. Deve ter ido procurar uma das beldades.
Em seguida o outro amigo também desapareceu da sala. Enquanto isto Veruska de costas rebolava provocando fortes emoções. Aí em um piscar de olhos o garoto da meia noite se viu sozinho na imensa sala de estar da casa da vovó de seu brother. Ele disparou a rir à toa. Algo bom parecia que iria acontecer.
O sorriso escancarado ficou mais parecido com o riso da Mona Lisa após uns dez, talvez quinze minutos. O silêncio passou a reinar. Achou estranho. Além disso, tudo estava escuro. A ficha ainda não havia caído. Até então. Olhou de um lado e de outro. Tudo escuro. Tudo quieto. Foi quando ouviu um grito.
O grito parecia ser de uma mulher e não tinha nada a ver com prazer. Era como aqueles de filme de terror. Assim mesmo ficou na dúvida. Como assim? O que significava isso? Um segundo grito quebrou o silêncio mais uma vez. Desta mais aterrorizante e agudo. Algo que, definitivamente, chamava atenção. Aquilo afastou de sua cabeça qualquer pensamento relacionado com uma fantasia sexual mal resolvida. Temeu pelo pior. Nada a ver com alegria ou diversão. Agora tinha a noção do perigo. Ou ao menos uma sugestão de que o trem havia saído dos trilhos. Tinha que tomar uma atitude. Foi em direção daquele som estridente que abalou sua percepção das coisas. A medida que dava passos adiante ficava mais aflito.
Entrou em um dos quartos e para seu espanto observou que seus brothers estavam desnudos e ensangüentados. A cor vermelha se destacava e predominava no seu campo de visão. Ficou pasmo. Sem ação. Mas esta havia sido apenas a primeira impressão. Então, notou Veruska, a cabritinha do inferno. Não havia como negar que fosse gostosa. Apesar da lingerie sensual, ou algo do gênero, não ficou nenhum pouco excitado. Estava assustado com aquela situação.
O motivo daquela sensação era o sangue que escorria dos cantos dos lábios da cabritinha. Ao fundo estavam as amigas que se contorciam e rebolavam em uma euforia que não era correspondida pelo sentimento que atravessou seu coração. Por causa da penumbra não teve como avistar sangue nas garotas. Mas sabia que estavam lambuzadas com o sangue dos seus amigos.
Veruska veio em sua direção. O medo invadiu seu íntimo. Já estava suando frio. O coração pareci que saltaria pela boca. Teve medo de morrer. Ficou paralizado. Seus olhos tiveram a intuição de que seria atacado em quaestão de segundos. Empurrou a cabeça para trás. Sentiu a mão dela encostando em seu peito. Só restava gritar para que salvassem sua vida.
A porta do quarto havia sido fechada. Não lembrava disto, mas naquele instante foi arrombada. Caronte arrebentou a porta com um único chute. Veruska interrompeu seu ataque e desviou o foco de sua atenção para o grandalhão. Na sequência uma sobra surgiu por trás do brutamontes. Uma figura sinistra. Ela se afastou do garoto da meia noite.
 _ "Você fez um bom trabalho".

Esta frase foi sussurrada em seus ouvido. Era Mike Phone, o vocalista do Noite Macabra. Ele, então, se aproximou do jovem em estado de choque e disse: venha conosco!

"NYX - A Magia da Noite" - Capítulo 5 - "Noite dos Vampiros"



"Noite do Vampiros"
   Boris de Pedra
Veruska já havia armado o bote. Metade mulher e a outra metade serpente. Um ser com estas características é conhecido, na mitologia grega, como uma lâmia. A sedução é a sua arma. Os homens chegam para o sacrifício iludidos. Chegam com a impressão que estão por cima da carne seca. Pensam que estão dominando o jogo. Imaginam os prazeres do sexo.
Acreditam cegamente que estão seduzindo uma mulher com forte apelo erótico. Mas esta suposição é a armadilha da lâmia. Ela envolve sua vítima na forma de uma mulher atraente. Até então segue o ritual do acasalamento que é a prática do sexo. Quando eles se despem, tiram as roupas, com a excitação na flor da pele, são atacados impiedosamente pela lâmia em sua forma original.
Uma mulher fatal da cintura para cima. Seios sensuais e um corpo de curvas sinuosas que provocam a libido. Quando a vítima fica excitada, a temperatura do seu sangue muda e, torna-se agradável para a lâmia.
- Você não pode tocar no Garoto da Meia Noite!
Ainda em estado de pânico, pela situação vivida, o jovem ainda conseguiu se perguntar: Como ele sabe que inventei esse nome? Mas apenas essas palavras, você não pode, paralisaram a ação de Veruska Veneno.Ela se contorceu de raiva. Não havia aproveitado do banquete. Lascívia e Vênus, suas amigas lâmias, se deleitaram. E selaram seus lábios em um beijo sangrento.Mas, Veruska,sabia que não poderia provar daquele manjar. Apesar de aparentar ser uma carne suculenta temperada com o sangue fresco de um jovem em plena puberdade. Um fetiche para apreciadores de sangue.
Mike Phone não precisou dizer que se tratava de um paranormal. Os poderes psíquicos poderiam azedar o líquido vermelho que corria em suas veias? Havia um plano maior que estava sendo orquestrado.
Ele, o menino, o garoto da meia-noite, deveria ser resguardado. A cabritinha do inferno já havia se conformado com isso. Deveriam voltar ao Limbo. Como se nada houvesse ocorrido.

O nome artístico adotado pelo vocalista do "Noite Macabra" era Mike Phone. O seu nome verdadeiro era Miguel Dragão. Um vampiro. Os outros integrandes malditos da banda eram mortos-vivos.
Quando ainda estavam vivos o guitarrista atendia pelo nome de Udolfo. Inusitadamente, o baixista e o baterista foram enterrrados em covas anônimas. MAs quem é que se importa com seus nomes? Após se desligarem da vida, ou morrerem, foram condenados ao inferno. Foi o Padre Doveque que os enviou para lá.
Eles faziam parte da banda que acompanhava Doveque em shows e gravações. Mas um dia durante uma passagem de som. Após usarem Elix, uma droga derivada do pó do elixir da longa vida, começaram a tocar "Welcome To Hell" do Venom.
Foi bem no meio do refrão que o Padre Doveque chegou e ficou puto da vida com tamanha heresia. Desandou a falar. Disse que isso era a música do diabo. Gritou. Berrou. Urrou. Fez o sinal da cruz. Como exorcista utilizou a reza brava de São Cipriano para afastar o mal que estavam propagando.
Depois deste episódio abandonou a música. Deve ter conscientizado que isso era coisa do capeta. Abandonou os palcos, mas não largou da batina. Udolfo e os futuros defuntos da cova rasa e sem identificação foram amaldiçoados. Isto porque, após este episódio, logo depois morreram. Cada um teve seu próprio fim trágico.
Miguel Dragão, de uma certa forma, ficou tocado pela história que acabou sendo abafada da mídia. Desde que roubou a casa de um alquimista passou a utilizar alguns encantos do mistíco. Assim, transformou os três defuntos, Udolfo e os seus amigos, em mortos-vivos e assim pôde montar uma banda de black metal para difundir a mensagem do mal.
Isto fazia parte do plano diabólico dos vampiros para conquistar o mundo. Miguel Dragão era bastante conceituado na Ordem dos Vampiros. Desde que roubou o elixir da Longa Vida de um alquimista teve uma ascendência extraordinária na seita.
Com uma gôta do Elixir fizeram um pó, chamado de Elix, que passou a ser consumido pelos seres humanos. Era um entorpecente. O consumo se alastrou e as pessoas enlouqueceram. Dopadas tornaram-se vítimas indefesas perante os vampiros. Mas também transformou os homens e mulheres em seres mais violentos. Além disso, os altos indíces de violência camuflava os ataques dos vampiros.
- Dê um pouco de pó de elixir para ele e traga o de volta - ordenou Miguel Dragão.
Falou isso e virou as costas e sumiu no meio da noites escura. Lascívia e Vênus ainda se deleitavam com o sangue fresco.Ainda se beijavam. Mas Veruska, já disfarçada de mulher, fez uma careta e as lâmias se recompuseram.

Ninguém reparou. Mas o figurino do Garoto da Meia Noite era semelhante ao de Mike Phone. Só que o vampiro tinha mais sex apeal. Em cima do palco era a personificação da própria sedução.